A Capricho voltou às bancas de jornal
E fui tomada por uma onda de nostalgia lendo revistas dos anos 90
Na última sexta-feira, uma notícia me deixou bem louca, no bom sentido (!!). O relançamento da revista Capricho, que agora terá duas versões impressas por ano. Quem foi adolescente na década de 90 sabe: a Capricho era uma febre. Ditava o certo e o errado da moda, “decifrava” a linguagem dos meninos (contém ironia), vinha com posters e receitas caseiras de beleza e enfiou o mantra “camisinha, tem que usar” na cabeça de t-o-d-a-s as meninas.
Eu era fascinada pela Monica Figueiredo, a editora-chefe da revista, que ia para desfiles na Europa, fazia viagens fascinantes pelo mundo, mostrava os bastidores da moda e era tipo uma fada madrinha para as super modelos (se você é meu leitor e novinho, elas eram as influencers da época!).
Outra ídola era a Amalia Spinardi, editora de beleza, que além de linda sabia tudo de maquiagem. Musas que me inspiraram a seguir a carreira em jornalismo (ah, que linda a minha inocência!).
Comprei a nova edição ontem e li junto com a minha filha de 12 anos. Achei simbólico, ganhei a primeira Capricho com a mesma idade. Além da revista nova, veio o gostinho de entrar numa banca, conversar com o jornaleiro e folhear um montão de revistas (sim, elas resistem!). Mergulhei fundo na nostalgia e comecei a montar uma pastinha cheia de capas e matérias antigas no Pinterest.
Impossível não comparar a nova Capricho com as antigas. Amei as pautas mais diversas. Tem questões de gênero, tem sexo seguro, tem meninas da periferia, tem dicas de make, tem temas ambientais, tem Madonna misturada com Liniker e Sabrina Carpenter. Capturaram bem o espírito dos adolescentes de hoje.
Na vibração nostálgica listo aqui o que levei de bom e de ruim das revistas femininas dos anos 90:
- Camisinha, tem que usar: fomos massificadas, pegamos pavor da gravidez na adolescência, aprendemos e ensinamos. Foi um período tenso após a descoberta do vírus HIV e a campanha funcionou demais. Foi tão icônica, inclusive, que a nova Capricho traz uma matéria falando justamente daquela capa emblemática de 1993. Hora de reeducar os jovens de hoje sobre infecções sexualmente transmissíveis, que acham que Aids é doença crônica e IST se resolve com medicação.
- Certo ou Errado: Quem lembra das fotos aleatórias de pessoas na rua, com o rosto borrado e um check ou um X indicando o look certo ou errado? Totalmente politicamente incorreto, mas que nos ajudava a ter uma noção de estilo e do que funcionava ou não. Mas também era uma coisa meio preconceituosa e gordofóbica, que bom que acabou.
- Nós testamos: Devia ser maravilhoso ser da redação e testar um monte de coisas! Maquiagem, roupas, cremes, viagens, receitas... Ah, que delícia!
- A incompreensível mente secreta dos meninos: Olhando as capas antigas fico com vergonha de como algum dia acreditei que adivinhar o que se passava na mente de alguém sobre amor e sexo poderia ser uma boa ideia. Mensagens totalmente equivocadas que moldaram a insegurança feminina de uma geração. Guiaram muitos primeiros namoros de forma super equivocada, um desastre total. Era um tal de ser boazinha, comportada e submissa... Socorro!
- Mania de magreza, mania de dieta, mania da beleza padrão: Um legado ruim da época, que gerou traumas e ainda hoje atrapalha a cabeça de tantas mulheres. Foi tema da minha monografia na faculdade e posso ficar falando horas sobre isso. Fomos moldadas por uma linguagem opressiva, por imagens do que seria a beleza padrão e por dietas super restritivas que adoeciam. Pesado.
- Testes, testes e mais testes, posteres, colagens e muitos elementos para recortar e colar na agenda.
- Fotos, diários de viagem e pessoas bronzeadas: Olhando as páginas antigas, percebi que ninguém pega mais sol para ficar bronzeado, né? Tudo bem, sabemos que faz mal e que precisamos usar filtro solar. Só que ninguém tem mais aquela cara coradinha e endorfinada de antigamente.
Ufa. A viagem ao passado foi boa, mas me lembrou o quanto caminhei, quantas Marias eu já deixei para trás e como é bom olhar para o futuro sabendo que há sempre a possibilidade de recomeços. E para você, a nostalgia te fez bem ou te fez mal?
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